quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Abdução

ficção
Sinopse:
Misturando volúpia e asco, Cahmah Liaum ousa escrever sobre seres de outro planeta, sexo coletivo, reprodução e hierarquia planetária. Entretanto sem fugir das rígidas leis cósmicas, utilizando uma incrível concepção lógica de uma realidade subatômica que faz-nos ver na fantasia a realidade.

"Júpiter corresponde ao fígado com grande semelhança. E da mesma maneira que nada pode subsistir no corpo quando falta o fígado, nenhuma tempestade pode se desencadear na presença de Júpiter. Desta maneira todos os dois estão animados pelo mesmo movimento, produzindo igual efeito e existindo cada um em seu firmamento próprio, com pleno domínio e entidade."
Paracelso


Estou só num distante sítio e a Lua já vai alta. A casa escura libera por entre suas frestas uma luz esbranquiçada. Nas paredes, espichadas sombras mancham o reboco e além, transcuto o silêncio. O vento desperdiça as sombras uivando seus galhos. Moldando-as febrilmente em formas transfiguradas. Meses transformam-se em luas que deságuam por trás dos morros exalando um frio perfume suave como o sono.

Ouço um barulho lá fora, um baque seco, como se um grande soco ofendesse o solo, vibrando grosso nas bases de meu cérebro. O medo esquenta meu corpo e a adrenalina ferve minhas veias, pondo-me alerta e arregaladamente vívido. Pode ser que sejam ruídos dos meus estômagos que ecoam em minha cabeça ou então o coisa-ruim visitando meus sonhos, pois ultimamente tenho tido sensações estranhas quando começo a dormir: Algo como se levitar ouvindo um ensurdecedor som ferindo minha cabeça e, ao mesmo tempo, sentir os dedos das mãos sobre o peito afinarem maciamente, é assim que gosto de começar a dormir, como um defunto, nessa hora sei que estou dormindo e sempre acordo, depois de muito esforço, sobressaltado. Mas hoje essa estranha sensação não me tomou, dormi rápido e sem susto.

Um ruído troncho, então, domina minha atenção. Este som veio de dentro da casa, da porta da cozinha. Lanço minha mão ao facão que guardo embaixo da cama, porém, antes de concluir essa ação, rompe pela cortina dependurada na porta de meu quarto uma fraca luminescência branca meio achumbeada. Meu coração dispara arremetendo forçosamente o meu corpo, fazendo-o sentar e se espremer no canto da cama. Vejo, então, envoltas nessa áurea, três explêndidas mulheres, belíssimas e semi-nuas. Tô sonhando, só pode ser, é uma alucinação! Elas são lindas! Irradiam uma estranha energia visceral e sensual que me deixa apavorado e excitado ao mesmo tempo. Um tremilique gelado percorre ansioso desde a boca do meu estômago ao alto da garganta, impedindo-me de berrar. O susto faz uma comichão percorrer a base de minha medula, meu coração explode e o sangue volatiliza ardente a superfíciede minha pele. É bom, muito bom! É tão bom que fecho os olhos e relaxo totalmente, sentindo a gravidade de meu corpo sumir enquanto um forte calor derrete aquela ansiedade fria que pulsava intensamente de meu estômago arrepiando minha coluna. Quando estou prestes à volúpia, a sensação cessa como que por encanto. Abro os olhos e vejo apenas aquelas tortuosas sombras das paredes entrando pelas frestas do telhado sem forro.

Estou sonhando? Sinto-me meio vazio e sento na beirada da cama, apalpo meus joelhos, olho minhas mãos e esfrego-as em minha cara. Agora sim, sei que estou acordado. Levanto meio cambaleante resolvido a tomar uma água, andar um pouco ou sei lá o que. Resolvo, então, tomar água na bica do quintal, só para sentir o frescor da noite, pois um fogo abrasa meu corpo. Lá fora vejo a lua cheia tingir as montanhas na cor da aparição, estranho, e o vento agita criando vida em sombras a moldá-las febrilmente. Enquanto permaneço na varanda, recordando o estúrdio sonho, vejo encostado ao barranco um brilho fosco, meio metálico, mas um tanto apagado. Curioso, aproximo-me temeroso e percebo uma caixa oblonga da largura do meu abraço, porém baixinha com buraco no meio, igual a um pequeno caiaque. Tenho a sensação que aquelas mulheres saíram dali. Não é possível, é muito pequena. Quando estou prestes a me afastar amedrontado, aparece então as três belas mulheres. Elas são lindas, a visão de vê-las ao luar me faz esquecer de tudo e um calor, como bolhinhas fervendo, ebuli entre meu ânus e a base do meu saco. Elas vem em minha direção, se aproximam, sinto seu calor e me envolvem. Suas brancas peles irradiam um calor suave, estranho, nem frio, nem quente. As três são muito parecidas e de seus cabelos, negros como a sombra, exalam um doce e penetrante perfume. Os biquínis, negros também, são mínimos, deixando a mostra suas belas ancas e curvas perfeitas. Sinto-me ferventemente excitado de novo. Uma delas abraça-me pela frente beijando-me a boca com suavidade, sua língua quente penetra-me lascivamente, liberando um calor que desce pela minha garganta esquentando meu estômago e pulmões. Ela me prende num cálido e sensual abraço que faz-me sentir seu esguio corpo por inteiro. As pontas de seus macios mamilos pressionam meu peito penetrando quente em meu agitado coração. Sua barriga muito lisa cola-se à minha, transmitindo um calor suave e acolhedor, enquanto suas pernas entrelaçam-se em minhas pernas expelindo um forte calor na altura de seus largos quadris. Uma outra vem por trás e me abraça, seu corpo forma, junto à primeira, uma espécie de casulo caloroso e vibrante onde seus mamilos unem-se atravessando mornamente meu tórax. Depois ela me beija quente a nuca e um leve choque elétrico percorre minha coluna irradiando-se por sobre toda a minha pele. A última introduz sua língua em meu ouvido recheando meu cérebro de um surdo torpor ardente e, por fim, prossegue lambendo-me todo, sugando meu intenso suor. No momento que sua efervescente língua abocanha meu pênis, uma explosão vulcânica treme possesso todo o meu corpo. O calor quente de sua sugada me faz olhar para baixo, e vejo-me entrando em uma grande, porém apertada vulva, quente e úmida. Comprimo meus olhos tremendo de prazer e quando estou prestes a ejacular, uma martelada vibrante e fria agride o tampo interno de meu crânio, enquanto uma horrorosa e gélida ventosa me sufoca e pressiona de baque a boca de meu estômago.

Desperto apavorado, sufocado, com a garganta entupida, tento respirar mas não consigo. Uma agulhada fria e extremamente dolorida crava-se em minha nuca explodindo minhas têmporas. Onde estou? Uma forte ânsia rodopia em minha cabeça. Arregalo os olhos e nada vejo, só escuridão. Sinto-me, então, amarrado em um sofá com um estressante sufoco pressionando meu peito, como se estivesse saindo violentamente do lugar. Meus músculos doem transmitindo-me terríveis cãibras. Tento me mexer e uma dor insuportável aperta meus ossos até quase esfarelar. É então que uma pancada com gosto de metal no fundo do céu da boca me faz desfalecer.

Estou louco? Drogado? Sonhando? Doente delirando? Me sinto mal, muito mal. Meu coração está fraco, quase parando. Tá tudo virando. Ai que sensação ruim. Sinto dificuldade em respirar, meu peito arde queimando meus brônquios. Faço força para sair deste pesadelo, só pode ser pesadelo. Quero respirar! Vou morrer? As tripas em nó sendo contorcida por uma serpenteante náusea. Uma dor fortíssima na nuca. E o cérebro pulsando sofregamente dolorido.

Nessa horrível sensação sou erguido pelos braços. Sinto a gravidade puxar-me e minhas pernas descambam impelidos por uma forte força. O mal estar, a partir daí, começa a aliviar-se, porém não consigo ainda enxergar direito, a vista turviovira em minha cabeça. Ouço muitos barulhos, uma misturança de sons, músicas, estridos agudíssimos. É uma festa, existe uma melodia tocando, muitas risadas e um falatório intenso. Começo então a dá conta de mim e raciocinar melhor, volto a enxergar e vejo vultos, muito corpos, vultos da cor cinza-violácea. Sombras que se movem num vento desordenado. Seus corpos se espicham e encolhem adquirindo mil formas espectrais. Um cheiro acriforte injeta-se em minhas narinas subindo para o cérebro e fervendo o cocoruto, daí, queimando, desce pela minha medula e tenho a sensação que meu cóccix se desenrola e cresce em forma de um comprido rabo endurecendo fortemente meu pênis. Uma estranha energia carrega-me de vitalidade, estimulando-me.

Sinto-me forte, sem mal-estar algum, e muito lúcido. Parece até que estou drogado, voando planícies em algum planeta doido com chão manchado de matizes alaranjadas e o céu verde claro bem brilhoso e translúcido. Sou arrastado, segurado por meus braços por seres gigantescos. Perco a sensação do corpo. Voo livre. Busco minhas mão e vejo-as finas, os dedos como delgados tentáculos semelhantes a pentelhos que se enroscam uns nos outros. Apalpo-me e vivo a mesma sensação que ultimamente vem atormentando meus pré-sonhos, sinto-me fino, comprido porém muito macio. Abro meu corpo e voo atraído pelos gigantes até próximo ao chão, numa grande planície que emana uma ligeira brisa. Sento-me vacilante sobre aquela estranha espécie de rabo, que em mim nasceu não sei como, e observo.

Dois destes gigantescos seres surgem à minha vista, escondendo uma multidão deles por trás. Se abraçam e se enroscam carinhosamente, dançando e tomando serpenteantes formas extremamente sensuais. Exalam um forte cheiro dulcificando minha face. Uma nítida cor azul-violácea corria em torno dos seus membros fluidificando-os continuamente e adotando várias formas como se fossem de gel quase líquido. Seus corpos seguem uma espinha bem nítida com muitas ramificações. Nas extremidades, tanto superior como inferior, quatro ramificações de maior porte e uma de grande volume amorfo fazem o limite de seus troncos. Aparentam os dois braços, a cabeça com uma crista afilada e vibrante e uma comprida língua que se utilizam para alisarem-se. Embaixo enxergava duas pernas, um grande rabo quase tão grosso quanto as pernas e um volumoso saco escrotal, bem veioso com um pênis curto porém flexível. Só que, o mais incrível, no quadril, no lado oposto ao pênis, existe uma vagina. Isso mesmo, pênis de um lado e vagina de outro. Assim eles fazem sexo. Abraçados lado a lado penetram-se gingando num movimento oscilante de quadris. A estes dois juntam-se muitos outros que penetrando e sendo penetrado, vão formando um cordão, mantendo um gingado cadenciado ritmado com a algazarra que produzem, uma espécie de mantram cálido e sedutor: "JAHVÁ, JAHVÁ, JAHVÁ...". Produzem um forte vento que me empurra para trás, sou então carregado para um lugar mais alto e dali vejo as pontas deste cordão se aproximarem e unindo-se em forma de um anel, atrai centripetamente milhares de outros cordões e seres. No momento que esse cordão se fecha em anel, um urro de alegria explode fazendo tudo tremer. Nisto desprende em espiral anéis de luz e fumaça, subindo e descendo, fazendo a terra tremer, o céu se contorcer e o vento atingir velocidades altíssimas. Aos poucos formam-se a esse anel outros círculos concêntricos, por dentro e por fora lembrando um maremoto organizado em um ponto ou veio central. Uma harmonia pulsante rege o movimento e o som mântrico é ensurdecedor. Nuvens violetas ascendem espiralizando como um cordão retorcido, como que sugadas por um ralo e a terra se agita como se fosse lama amorfa se enrolando e sendo, por sua vez, sugada para baixo. São milhares de seres num bacanal coletivo e extremamente fantástico cujos corpos se enroscam de uma tal maneira girando e girando. O barulho agudíssimo atordoa-me, o penetrante cheiro ofende meu cérebro e a intensa luz ofuscante tonteia-me de tanta força. O vento agressivo queima a frente de meu corpo com rispidez. Começo, então, a tremer demais e tenho a sensação que o calor incandesce minha coluna feito uma espada flamejante, uma bomba explode em minha cabeça descendo violentamente para meus testículos, transmutando-se em fortes gozos de fogo, que me cega e faz-me perder os sentidos.

Desperto com uma dor aguda no estômago, um verdadeiro nó nas tripas como se um grande verme ocupasse-as e comprimisse-as. Na boca um gosto amargo e seco que me impede de abri-la. Uma mão parece que espreme meu cérebro causando muita dor. Uma tortura. Meu desejo é estar em casa, na terra, na minha cama. Mole e totalmente sem energia abro os olhos e assusto-me. Isso é verdade? Não, não pode ser! Vejo em minha volta, sentado sobre rabos, alguns daqueles pavorosos seres me observando em roda. Conto vinte e quatro seres que, com olhares tranquilos, esperam o retorno de minha consciência. Fico horrorizadamente apreensivo e nervoso. Um cheiro salgado e gélido penetra em minhas narinas e aperta rápida e suavemente meu cérebro. Sinto-me perdendo os sentidos, apavorado luto para sentir meu corpo, ver, falar, ouvir algo, não quero morrer, socorro! tento gritar mas não consigo. O pavor me domina por um longo tempo, forço mas nada consigo fazer, nem berrar. Começo, então, a ficar cansado e resolvo ceder, abandonar, me entregar à morte. Nesta hora, meus sentidos somem e fico só com uma sensação que estou presente, vivo, no escuro, só com a mente funcionando. De algum modo fica esclarecido que estou em outro planeta, em Júpiter, deve ser telepatia ou outra forma de comunicação que desconheço, mas que consigo captar perfeitamente.

Júpiter tem várias camadas, ou esferas, a maioria delas são habitadas. Seus habitantes têm a densidade corpórea conforme a força gravitacional relativa à esfera em que se encontram, sendo possível deslocar-se entre as esferas desde que se consiga mudar a densidade e a estrutura elementar do corpo. Manobra muito ambicionada pelos seres desse planeta e a principal dedicação de seus habitantes, que consideram esse tipo de transmutação material como uma meta de hegemonia e poder. Porém, poucos conseguem viajar por mais do que umas poucas camadas por muito tempo. Ou por falta de vontade e identidade própria ou por que não conseguem acumular energia suficiente. Existem seres muito sutís nas esferas mais exteriores e outros densos como rocha nas esferas interiores. Quando querem se alimentar envolvem, tomando a forma de um saco ou um próprio estômago, um outro corpo vivo, um fruto da terra, de cor alaranjada e brilhante, tal qual um belo topázio, que encontram no meio dessa estranha terra. Essa espécie de cristal vivo que os alimenta é muito abundante nas esferas mais densas. O chão é todo alaranjado e esse cristal parece ter muita energia. Já nas esferas superiores são obrigados a se alimentarem de vento e partículas voadoras, igual uma baleia comedora de minúsculos plânctons. Entre esta espécie que me raptou, uma vez em cada ciclo, ocorre um ritual de reprodução, este que presenciei. Todos eles nascem ao mesmo tempo e se amadurecem igual. Estes vinte e quatro que me vigiam são os líderes, por isso são meio acinzentados. Eles são os únicos que conseguem ir à última das esferas exteriores, que apesar de ser a maior delas, só cabem os vinte e quatros, tornando-os enormes, milhares e milhares de quilômetros de corpo com vontade própria e identidade dominante. É de lá que influenciam, agitando e remexendo as camadas inferiores. São verdadeiramente os donos do planeta, são semideuses.

Entrei num profundo sono que me alimentou e me restituiu as energias e quando acordo respiro sem esforço, mas sem sentir meu peito arfando, e sinto aquele perfume acriforte que me entorpece, incandesce-me e faz-me nascer novamente aquele estranho rabo. Imediatamente começo a voar por aquele mesmo caminho que fizera outrora. Vejo a extensa planície onde foi realizado o grotesco ritual. Em minha volta está um dos seres líderes, realmente esses são bem maiores que os outros e está aqui comigo só para me amparar. Pelo chão esparrama-se um sem fim daqueles corpos, que de azuis violáceos passavam para verdes, brilhando como uma espécie de resina plasmática. Eles se contorcem como se estivessem com terríveis cólicas ou alucinadamente entorpecidos. Aquela harmonia grupal, aquele amor, não existia mais, contrastava agora com um quadro de dor, lamúrias e tristezas. Bem de perto eu vi um destes seres se contorcendo e sua face adquiria várias formas, numa delas sua boca se abriu tanto que tomou toda a cabeça, se é que posso chamar aquilo de cabeça e, arremessando longe sua língua, bafejou um misto de grito e arroto, cujo cheiro me lembrou a rosas, isso mesmo, rosas perfumadas. Quando agitava seus membros, eles cresciam tanto, que chegavam a atingir cerca de três vezes o tamanho anterior. A sensação era que ele estava derretendo. transmutando-se em outra forma. Num determinado momento, vi por debaixo de sua axila uma espécie de tumor, de cor arroxeada brilhante, que foi lentamente crescendo e crescendo, de tal modo que roubou a cor de seu hospedeiro, tornando-o ainda mais verde opaco. Cresceu tanto que quando atingiu o tamanho de uma cabeça se desprendeu do corpo e, numa forma de gota, caiu e sumiu no chão iluminando-o translucidamente. Deste mesmo ser vi surgirem seis destas gotas, brotando como um câncer de vários pontos de seu corpo meio disforme, enquanto este ia se transformando numa nuvem amorfa, verde escura e sem brilho, morta. Meu estômago não resistiu aquela asquerosa visão, voou em vômitos que jorrava azul, doendo, doendo muito. Procurei respirar e o que entrou em meus pulmões foi algo rascante, dilacerante, irrespirável. Enquanto o vômito me atacava peristalticamente, tentava respirar. Nessa agonia uma gosma tapou-me a boca, com um amargo e metálico gosto, socando minha nuca, fazendo-me inchar ardidamente os pulmões.

Não sei bem quanto tempo se passou, mas quando terminou esta parição nojenta o céu estava verde escuro, iluminado pela terra que emanava uma luz violeta. Os únicos seres que sobraram foram os que cuidaram de mim que não participavam daquela festa, pois tinham como missão guardar os conhecimentos, transmiti-los e liderar a próxima geração que brotaria da terra, portanto não podiam morrer e se sujeitavam a ficar vivos para sempre sem ao menos sentir o momento do gozo e o prazer do amor carnal. Só quando chegasse a ser o mais velho dos vinte e quatro e surgisse um ser que fugisse da destruição geral de seus semelhantes por livre e espontânea vontade, não participando do ritual, é que o velho devia ir embora para outra esfera. Mas somente após o ritual de iniciação, onde ao iniciado era transmitido a fórmula de transmutação máxima e da manipulação do mundo, se conseguisse aprender, o mais velho estava livre ou quase livre, pois teria que escolher, como misericórdia, viver fugindo nas esferas mais densas ou ser sacrificado pelos restantes. Esta é a forma escolhida para mudar o poder, se libertarem desta tarefa tediosa e diversificar esse grande mundo habitado por poucos e imensos seres. Se conseguisse transmutar sua essência, de acinzentado para azulado e não fosse pego, poderia participar do próximo ritual de reprodução, a sua própria morte ao fim deste novo ciclo, ou então vagaria eternamente pelas densa esferas inferiores experimentando sensações de todos os tipos, mas sempre fugindo de vinte e quatro poderosas mãos que o perseguiam para matá-lo sem piedade, pois conhecia os segredos do domínio e poderia atiçar um conflito e uma desordem. Alguns tentavam voltar ao poder, grandes guerras já foram travadas e muita desordem já haviam ocorrido. Porém, o planeta não permite mais de vinte e quatro no comando, destes, me segredaram, somente dez efetivamente comandam, o restante parece que funcionam como conselheiros. Mesmo quando uma grande leva foge do holocausto sexual fazendo uma violenta guerra no céu, só estabiliza a paz quando apenas vinte e quatro seres prevalecem. Nessas guerras quem consegue apropriar-se das esferas mais externas leva grande vantagem, desencadeando violentas tempestades de todo os tipos, fogos, raios, ventos, gelos e chuvas corrosivas que alvejam os inimigos com a ajuda da forte gravidade planetária.

Tudo isso me foi esclarecido não sei para que, nem por que. Só sei que acordei todo sujo de esperma, cansado, muito dolorido, com fortes dores na barriga, pulmões, garganta e vomitando uma gosma violeta.


Escrito por Cahmah Liaum (Mauro Cruz) em agosto de 1998.